“Compasso de espera”, um artigo de Dulci Alma Hohgraefe
Esta expressão é utilizada para definir uma parada e/ou pausa, aguardando algo ou alguma condição necessária para seguir adiante. Na maioria das vezes denota cautela, paciência e confiança naquilo que poderá vir. Também pode ser uma maneira de protelar as coisas, sem a devida vontade ou coragem de dar andamento às questões.
Tem uma pequena história no Livro “A Arte da Gentileza”, de Piero Ferrucci, que narra a ida a campo de uma expedição para uma pesquisa científica em um lugar de difícil acesso e os pesquisadores pediram auxílio aos nativos para carregar os equipamentos. A expedição seguia célere, pelo adiantado da hora, quando de repente os nativos largaram os equipamentos e ficaram parados. Questionados, responderam: “…estávamos indo tão rápido que a nossa alma ficou para trás, por isso estamos aguardando um pouco…”
Essa história serve de analogia aos tempos atuais, visto que na maioria das vezes estamos correndo bem à frente da nossa alma, tomando decisões e nos precipitando em escolhas equivocadas, distraídos e acelerados pelo ritmo frenético imposto diante dos avanços tecnológicos e da cultura consumista, bem como a busca pelo prazer de qualquer forma.
Mas será que essa dedução já é consenso entre nós? E em que consistiria essa consulta ou presença da alma? Como poderia auxiliar nas nossas escolhas e decisões?
Acredito que só o fato de nos aquietarmos já traz serenidade e nos reconecta conosco mesmos, com a nossa essência, possibilitando uma avaliação com maior probabilidade de acerto, acessando a consciência onde encontramos ínsito o registro das leis naturais.
Diante de qualquer situação, por mais alarmante ou paralisante que possa se apresentar, nada melhor que respirar fundo, contar até dez, possibilitando a retomada do equilíbrio e da razão, para então estar em condições de agir, evitando uma reação desastrosa, muitas vezes irrecuperável e de consequências graves.
Constantemente somos defrontados com situações complexas, cujas soluções exigem uma análise mais apurada ou quando um simples compasso de espera é a melhor alternativa, aguardando o momento propício para sua solução.
Compasso de espera tem a ver com tempo, este ingrediente importante, muitas vezes único a trazer luz ou esclarecimento às questões, mas que poucos estão dispostos a aguardar, preferindo atropelar os acontecimentos.
Aguardar a hora certa exige paciência e resignação, mas denota sabedoria, admitindo que nem tudo está ao nosso alcance resolver e entregar o comando pressupõe humildade e confiança, virtudes que ainda precisamos exercitar na prática do dia a dia, mas que certamente trarão imensos benefícios à nossa alma.
Dulci Alma Hohgraefe